sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Da acrobacia para o Cross country

 

No Brasil o vento praticamente tem uma única direção. Isso faz com que nos apaixonemos pelo voo de distância. Eu demorei um pouco pra isso, mas... rs Me lembro como se fosse hoje meu primeiro voo de100km. Não é  que seja fácil, mas eu tinha uma outra ideia na cabeça, a noção que eu tinha de fazer 100km de carro, não era a mesma de fazer voando em linha reta. Tudo conta, o desfio de se manter no ar, as paisagens, o céu azul ou cheio de nuvens, isso faz com que as horas e os kms passem sem que nós percebamos.

Antes profissional em acrobacia, nunca me imaginava pousando tão longe, dava muita preguiça pra voltar pra casa e perder o dia todo só com isso, neste período meu tempo era precioso com os treinos. Mas no decorrer dos anos eu treinava tanto acrobacia, que após voar 3 horas no mesmo lugar, subindo e descendo sozinha praticamente eu acabava decidindo Pousar mais próximo de casa, várias vezes fiz isso com minha velinha de acro.

Me lembro em Palmas, treinava no chão, mas quando comecei a tirar com os amigos, lá temos que atravessar o lago que tem 8km de largura, quando eu chegava no lago com minha velinha de acro que eram 14km de distância da rampa, e chegava alto, juro, eu pensava 5000x acro ou cross, porque o meu condicionamento anterior era de treinar em cima da agua e chegar até o lago era uma ótima oportunidade para treinar, era muito tentador.

Era gostoso demais sair depois de umas sessões de acro para o cross. As pessoas me limitavam, diziam: você tem vela de acro não dá pra ir longe...mas na realidade eu não me sentia limitada, eu só não tinha vontade, era realmente muito confortável treinar, pousar e estar perto de casa. 

Mas um dia eu resolvi ir, e como um amigo disse, sou recordista mundial com vela de acro, fiz 66km, dá pra imaginar? Sim hoje eu voo muito melhor com uma vela 19m do que com uma 21m, mas as pessoas querem fazer sempre como as outras (o tal Maria vai com as outras), voar velas de ponta, alongadérrimas com 20, 30kg de lastro...aff, primeiro precisam aprender a decolar com tudo isso, só vejo decolagens horríveis, perigosas e desastrosas, depois aprender a voar com a máquina que tem nas mãos, afinal, parapente não faz o serviço sozinho, e por último parar de mimimi, desculpinhas do tipo: A vento forte, 50kg de lastro...blá blá blá. Vire um Piloto de verdade, se tem que decolar com lastro, vai pro chão e treine, treine até decolar direito sem risco, se é isso que escolheu e parem de falar tanta besteira as vezes. 

Voltando, desculpem o desabafo, mas pe que cansa ouvir tanta besteira por tantos anos.

Quando começamos a perceber que não são apenas quilômetros, mas sim fazer uma viagem de uma cidade para outra por cima, isso é tão incrível, principalmente sobrevoar lugares que jamais avistamos de dentro do carro. Pessoas que nos abordam que nunca viram um parapente antes, as crianças correndo, homens gritando surpreendidos: ¨É uma mulher...¨! (É, até hoje temos isso) Tudo isso começa a ficar interessante, e começamos a pensar: até onde será que consigo ir no próximo voo, ou colocar um objetivo final e ir. Tudo se torna diferente, a vontade de sempre ir um pouco mais, sem nem saber como será o retorno para casa, porque comigo era assim, eu não tinha resgate já avisa minha mãe que talvez eu dormiria no lugar que pousei porque não tinha ônibus pra voltar. Quantas vezes dei a sorte de pegar o ultimo ônibus...é tão gostoso isso, tem gente que não gosta, fica estressado, pra mim era muito divertido.

O cross country entrou na minha vida, porque estava chato voar sozinha o tempo todo, mas acabei continuando voando sozinha. 

Acrobacia treinamos no mesmo lugar, subimos e descemos várias vezes. É bem divertido quando temos outros acrobatas por perto. Compartilhar as conquistas, evoluir junto com outra pessoa sempre foi mais fácil para se enxergar os erros, trocar ideias e corrigir antes de se viciar no erro. Mas minha geração deu um salto no espaço, nós tivemos muitas perdas, muitos pararam de treinar e Eu fiquei ali de repente sozinha.

No Brasil o foco é voar distância, um voo em linha reta, aquele voo que suas decisões, conhecimento, e responsabilidade te levarão o suficientemente distante de sua decolagem de acordo com sua experiência.

Hoje aqui nos Alpes, aprendendo mais uma nova forma de voar, me sinto praticamente completa no voo livre e com toda experiência que acumulei nesses anos, sinto uma felicidade enorme em poder ter tido a oportunidade de comprar meu primeiro LittleCloud que a partir dai realmente eu mudei meu estilo.

Aqui nos Alpes estou aprendendo a sentir o prazer na triangulação, ainda humildezinha, voos bem locais, mas o que antes pra mim era um tédio, hoje se transformou  em admiração. É como uma trilha, se vou caminhar, nunca gosto de voltar pelo mesmo caminho, engraçado né? Mas aqui onde moro, é impossível um voo em linha reta e a adaptação é tudo né minha gente.

¨Não é mais forte o que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta as mudanças¨

Charles Darwin

Quando avistei o Mont Blanc pela primeira vez em voo, equivalente a uns 100km em linha reta de onde voo, com a experiência do Brasil, fiquei louca pra ir direto pra ele, enchi o Tom de perguntas, fiquei hipnotizada, perguntava: Como ninguém nunca fez esse voo? Mas voando dia após dia fui aprendendo sobre os vales, ventos fortes, lugares sem pouso, fios de alta tensão em vales extremamente perigosos, temos que saber tudo, tudo mesmo.Você já se imaginou pousando em um topo de montanha ou vale e a única forma de sair deste lugar seria uma caminhada de uns 3 dias? Pois é aqui é tipo assim se você não souber realmente o que está fazendo.

Eu como excelente conservadora, continuo engatinhando nessas montanhas gigantes, mesmo sendo esta minha segunda temporada nos Alpes, ainda tenho muito para aprender e fico feliz com isso.

Com amor, Marcinha.

Alpes


 

sábado, 7 de outubro de 2023

Você quer chegar lá?

 

O sonho de se tornar um bom piloto em um curto período de tempo pode ser extremamente desastroso e demorado.

Vou listar aqui alguns dos maiores problemas que normalmente vemos quando uma pessoa inicia no parapente e porque ela nunca chega lá.

- Escolher seu instrutor é crucial para seu aprendizado, mas ouvi-lo é ainda mais importante.

Muitos piloto iniciam o curso e devido a facilidade com que o instrutor orienta este aluno a fazer da forma correta as coisas sempre darão certo, mas o piloto se acha apto a seguir o caminho sozinho muito mais cedo do que ele pode imaginar. Mera ilusão, porque ele esquece que tem alguém o orientando para tudo dar certo.

A facilidade vem da orientação da experiência do instrutor que tem muita quilometragem rodada e com toda certeza desse mundo, ele não vai querer um acidente na escola dele.

Escolha um instrutor e respeite-o.

- Controlar a sua ansiedade!

Quer ir “longe na vida”? Exercite a serenidade, aquela velha história de degrau por degrau.

Ansiedade é um baita sinal de imaturidade emocional. E sem emocional você não chega a lugar algum. Ela irá te sabotar em todos os sentidos.

Por último e mais importante:

- Decida que você chegará lá. Mas tenha tempo para isso, não passe a carroça na frente dos bois.

Quando você decide, mas decide MESMO, você não volta atrás. Você não para. E é essa decisão que te fará enfrentar os obstáculos que vierem, com maturidade, calma e responsabilidade para que tudo ocorra da melhor forma possível.

O voo livre é deslumbrante, mas necessita prática e tempo para alcançar a almejada experiência, esse sim lhe trará segurança e habilidades para conquistar o mundo.

Nenhum caminho é fácil de seguir, mas quando estamos dispostos e decididos a chegar lá, os obstáculos apenas se tornarão um aprendizado mais profundo.

Com amor,

Marcinha , )( `

Ribeira do Pombal BA



 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Lesões e voo livre

 

Lesões são bastante comuns no voo livre, desde uma torção no tornozelo à uma fratura vertebral grave.

Eu tive tantos professores nesse esporte, mas o primeiro deles me falou que a lesão mais comum de se ver em um piloto de parapente era a tendinite no supra-espinhoso ou bursite (ombros), isso lá em 2002. Por causa da nossa querida posição mágica, aquela com os braços a 90 graus com sustentação para cima, uma posição no início realmente cansativa, mas a adrenalina é tanta que nem sentimos, e as dores acabam sendo crônicas com o passar dos voos. Principalmente quando começamos a passar mais horas nos ares.

Outro professor só olhou pra mim e disse: Você está pronta para ver alguém morrer na sua frente? Isso foi um choque, mas sim é o que pode acontecer caso as pessoas não respeitem os limites e caso não estejamos preparados ou conscientes de que é um esporte que exige responsabilidade e se não estivermos preparados para isso, vamos ficar em choque e acabar acreditando que é um esporte bem perigoso, Mas lembrando: Quem faz o esse esporte se tornar perigoso é o próprio piloto.

Voltando as lesões. São duas coisas totalmente diferentes né? Mas isso não é uma realidade muito visual, então as vezes precisamos ver para crer, e isso não é nada bom, pois a autoconfiança de que nunca acontecerá conosco está sempre no subconsciente na maioria dos Pilotos.

Com certeza você que está lendo este texto, tem algum amigo que já sofreu alguma fratura no esporte, caso não tenha, é porque acabou de começar e ainda tem muito pra ver durante o trajeto. ATENÇÃO: não é um desejo, mas infelizmente uma realidade.

Após uma lesão, existem vários fatores a serem considerados antes do retorno ao esporte, o qual pode ser diferente para cada atleta dependendo da modalidade de esporte e do nível esportivo ao qual pretende-se retornar.

Devemos levar em conta uma recuperação e reabilitação satisfatórias.

A decisão de voltar à prática do esporte não deve ser tomada isoladamente, há o envolvimento médico, o fisioterapeuta, os familiares, os amigos, dependendo claro o nível de lesão que este atleta obteve. Mas neste momento o que afeta mesmo o piloto nessa decisão é a sensação de perda, porque alguns pilotos pensam que se decidirem parar, irão perder todos os amigos que voam, o que não é verdade se forem realmente amigos, mas com certeza uma decisão dessas acarreta em um afastamento ¨pessoal¨ e não realmente dos amigos, trazendo consigo uma possível depressão.

Uma vez liberados fisicamente, a maioria dos atletas não tem problemas para voltar à prática esportiva. Outros, no entanto, podem estar preparados fisicamente, mas não mentalmente, o que pode resultar em diminuição da confiança e consequente declínio no desempenho, estresse, ansiedade, medo de voltar e de sofrer lesões piores. Afetando diretamente o seu estado emocional. Deixando aflorar pensamentos negativos sobre o fracasso.

Esporte como o nosso, o deslumbrante voo livre afeta totalmente o mental, porque o vício pela adrenalina, a sensação de voar são muito elevado e insubstituíveis, mas a partir do momento que abrimos a porta para o medo e insegurança, tudo isso é colocado na balança para um possível não retorno, trazendo paralelo a frustração a tristeza e mais uma vez a sensação de fracasso.

Por isso sempre sou persistente em perguntar: 

O que você pretende no voo livre? 

Tanto a diversão dos finais de semana quanto o comprometimento para se tornar um campeão, irão exigir muito da: sua responsabilidade, irão exigir treinos, irão exigir desistências, irão exigir gastos com conhecimento, irão exigir paciência para evoluir com cuidado, irão exigir respeito, irão exigir escolhas e principalmente irão exigir tempo.

A responsabilidade sempre será sobrecarregada, entre o treino, a sabedoria e a prática, qual seria o limite para isso, qual seria o preço para realização de um sonho na hora incorreta?

O que determinará seu retorno para esporte será sua autodisciplina e seu prazer, mas isso não será fácil, você precisará de ajuda externa e interna e não tornar o retorno uma obrigação ou um sofrimento.

Hoje vim conversar com vocês como Fisioterapeuta, sobre recuperação física e emocional. 

É com certeza um leque este tema e nós vamos falar mais sobre isso.

O objetivo maior é vencer você e seu ego!

Preserve sempre seu sorriso para a próxima decolagem!

Com amor, Marcinha , )( `

 

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